quinta-feira, dezembro 04, 2014



RENATO RUSSO MUDOU A MINHA VIDA


Eu tive dois traumas na minha pré-adolescência e na adolescência. O primeiro foi a morte do Senna e o segundo, dois anos depois, em 1996, do Renato Russo. Meu primeiro contato com Legião foi com a galera cantando Faroeste Caboclo na escola. Foi amor à primeira vista. Na época, eu estava pilhado também com Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós. Mas Legião Urbana calou fundo, ou melhor, tocou. E não era para menos. A profundidade abissal das letras nos engolfavam nas asas de suas ondas. Renato nos entendia em cada música. Era como se exorcizasse todos os nossos demônios. Ainda lembro, que  do cursinho de MS-DOS que eu fazia no Senac, o que mais rendeu foi ter conseguido com um colega, na época,  bem mais velho, os vinis da Legião, que acabei gravando em fita cassete para ouvi-la todas as madrugadas. Eram minhas canções de ninar. E me lembravam que "todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou".  Renato traduzia de forma lindamente melancólica o que minha alma precisa escutar desde os 11 anos. Era impossível não se emocionar com Tempo Perdido e Pais e Filhos, me lembrando, ainda tão jovem, que era preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.  Que lição de humanidade. Parece que cada vez mais estamos distantes de músicas assim. É tudo massificação e amar ao próximo ficou tão demodê. Bom, mas voltemos ao que interessa.  Me lembro de ligar para a rádio pra pedir Faroeste Caboclo e ter o prazer de escutar aquele calhamaço de palavrões. Renato Russo não marcou apenas fases da minha vida. Renato Russo mudou a minha vida. Mudou a forma de perceber o mundo e as pessoas à volta. Não era Mais do Mesmo. Me atrevo a dizer que nenhuma banda uniu tão bem letra e melodia na história do rock nacional. Renato era um artista nato e profundo. Tinha um domínio de palco como poucos. Os shows da Legião beiravam a cultos religiosos, tamanha a devoção da plateia. Eu sou suspeito pra falar. Até hoje tenho as revistinhas com as letras e cifras que eu comprava para poder acompanhar as músicas enquanto escutava a fita cassete.  Hoje tenho todos os cds da minha banda preferida. E, na simplicidade dos três acordes, toco Legião no violão. É minha realização. Há poucos meses assisti ao filme Somos tão Jovens, que apesar de toda e qualquer crítica (ficou muito atrás de Cazuza - O Tempo Não Para), vale a pena conferir. Ver aquela efervescência do rock nacional e de figuras, desculpem o infame trocadilho, tão jovens como Renato, Dado, Bonfá, Dinho Ouro Preto, Flávio Lemos, Fê Lemos, Herbert Viana, tentando mudar o mundo, é impagável.  Só o porre do Renato e a meditação pela morte do John Lennon já pagam o filme. É bom lembrar que dali surgiu o Aborto Elétrico, que deu origem à Legião Urbana e à Capital Inicial. O filme deixa o gostinho de quero mais. Poderiam ter explorado melhor. Mas já deu pra perceber o quão complicado e abusado era meu ainda jovem ídolo, criando o nome artístico  Russo, em plenos tempos de ditadura.  Renato não era fácil. Chato, neurótico, possessivo, depressivo, mas, acima de tudo, genial. E é da genialidade da sua obra, com mais de 25 milhões de discos vendidos, que nos fica o legado para dividirmos com nossos filhos, netos, amigos, irmãos, pais, ou futuras gerações. Legionários sempre. Que Índios, Quase Sem Querer, Andrea Doria, Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, Pais e Filhos, Há Tempos, Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar; Sereníssima, Perfeição, Via Láctea, entre outros, possam ecoar com a força de sempre pela eternidade.  Meus filhos, sem dúvidas, serão legionários.  
            Em tempo: o ator Wagner Moura está de parabéns, pois apesar das críticas  e de sua desafinação, o show de tributo ao Legião Urbana, com Dado e Bonfá, promovido pela MTV em 2012, foi emocionante, em grande parte, graças ao público . Quem não conferiu fica a dica e o link:

             Como dizia Cazuza: “meus heróis morreram de overdose’. Os meus, meu caro poeta, morreram de Aids. Força Sempre! 




Um comentário:

Berquó disse...

Concluída a leitura da primeira crônica do blog, Renato Russo direto na vitrola. Andrea Doria pra começar, depois as demais ao natural. Não que não ouça, mas depois de te ler, deu vontade de ouvir tudo de novo.